Que as
artes possam ser tomadas como sismógrafos para abalos nas profundezas ou mesmo
como antenas para captar alterações esperadas – temidas, quem sabe – não é
exatamente novidade. Sem deméritos nisso. Até pode ser que cause riso aquele
mau humor, aquele desgosto tão marcado por alguns entre os primeiros ouvintes
das sinfonias de Mahler e da Sagração da
primavera, de Stravinsky: “como?”, “que mixórdia!”. Mas, quem, ainda hoje, talvez não recaísse numa certa zona claudicante
– daquele que anda na corda bamba – diante da fonte-mictório, de Duchamp? Aí surge
algo que nos interessa especialmente: que a arte não importe tanto por aquilo
que ela é ou deve ser em si mesma, senão por aquilo que ela, com seus arranjos
e rearranjos insólitos de objetos palpáveis ou nem tanto, nos põe finalmente
para falar. Em algum momento, isso é capaz de se transformar em uma pequena
vitória em face do Outro que nos cala fundo. Pequena vitória, mas com aberturas
insondáveis e prenhe de apostas que também se fazem ao sabor da contingência.
Esse será, portanto, um espaço para acolher admirações, devaneios, inquietações
e comentários dos sujeitos que desejarem expor algo de sua relação com as artes
– com os artistas também, por que não?
Nenhum comentário:
Postar um comentário